Crítica BoJack Horseman S3: fama e egoísmo

Breaking Bad, provavelmente a série mais bem escrita de todos os tempos, sempre nos testou em relação ao amor que tínhamos por Walter White, personagem icônico vivido por Bryan Cranston. Até que ponto aceitaríamos sua jornada de destruição? Quantas mortes seriam necessárias para criar aversão a ele?

Teste similar estamos passando em BoJack Horseman, animação criada por Raphael Bob-Waksberg. O que já era evidente nos anos anteriores, torna-se gritante na terceira temporada: BoJack é profundamente infeliz. Por ser egocêntrico, egoísta, usa outras pessoas como fuga, mesmo que isso possa acabar com elas.

Até onde é prazeroso assistir a uma comédia cruelmente real e a partir de que momento se torna tão desconfortável que já não é mais possível rir?

A genialidade da atração consiste em trazer cavalos, cachorros, gatos e uma infinidade de outros animais que representam muito bem as diferenças humanas. Todavia, há muitos momentos em que o protagonista age de maneira extremamente irritante. Não é preciso que ocorra uma evolução por parte dele. Sobressaltos são bem-vindos. O problema é quando essa equação está completamente desequilibrada, e já não há graça ou brilhantismo em certos erros transformados em rotina.

Para além disso, falando das incontestáveis qualidades, temos o habitual humor ácido, coadjuvantes que poderiam ganhar suas próprias séries, um preciosismo ao resgatar situações na construção narrativa e tantas referências ao universo pop quanto possível.

Não precisava ficar tão atento às obras e pessoas citadas direta ou indiretamente desde o fim da segunda temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt. Não há como não sorrir, por exemplo, quando Mr. Peanutbutter foi dar uma de herói em uma cena que remete ao filme Mad Max.

O labrador, aliás, é tão carismático que eu aceitaria trocar meia dúzia de cenas de Diane e BoJack por uma dele com Princess Carolyn ou Todd – que, ao dar a entender que é assexual, foi responsável por uma das revelações mais interessantes deste ano.

Enquanto BoJack insiste em permanecer no seu limbo pessoal, Peanutbutter pegou, de certa forma, a série para si. Permanece companheiro da mocinha da história – um tanto chata, verdade seja dita, mas poderia ser pior. Sua química com Todd funciona muito bem. Para completar, ganhou o melhor gancho de fim de temporada.

Por mais que seja maravilhoso a atração mostrar os percalços da fama – principalmente a maldosa divisão de classe entre grandes astros e celebridades de menor brilho –, está na hora de BoJack dar algum passo para além disso, seja lá para onde for.

 

Nota (0-10): 8

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