Há uma escolha primordial que deve ser feita ao querer contar qualquer história: levar-se a sério ou abraçar a loucura – o que pode ser deliciosamente divertido. O primeiro The Rocky Horror Picture Show, musical de 1975, dirigido por Jim Sharman e baseado numa peça teatral, deixa-se envolver pela essência trash, trazendo contornos inusitados que dão brilho a uma obra mediana. Mesmo as presenças de Susan Sarandon, com sua doce e excitante Janet, e do inebriante Tim Curry, que dá um tom magicamente insano para o Dr. Frank-N-Furter, não escondem alguns números pouco inspirados. Todavia, apesar dos pontos fracos, sobressai a ode à libertação.
Quatro décadas depois, voltamos a visitar o castelo de Frank-N-Furter em The Rocky Horror Picture Show: Let’s Do the Time Warp Again, telefilme de Kenny Ortega. Desta vez, no entanto, esvai-se o elemento de maior fascínio do original, a alma de filme B. É inegável que os avanços coreográficos e de cenários são atrativos. Infelizmente, foram usados para descaracterizar o trabalho e deixá-lo à deriva quanto ao público que pretende atingir.
Laverne Cox, assim como Curry, magnetiza a todos. A atriz, que ganhou nossos corações desde sua primeira aparição em Orange Is the New Black, canta e atua formidavelmente. É maravilhoso assistir a uma produção que tenha uma atriz transexual representando uma personagem transexual – representatividade importa muito. Pena que em sua nova versão, parte da insanidade de Furter tenha se perdido.
Quando é dado mais sobriedade a uma obra como esta, o que antes não carecia de explicação, já que estávamos num mundo de bizarrices, agora pode parecer incoerente. A morte de Eddie (Adam Lambert) e suas consequências, por exemplo, soam forçadas desta vez – e nada pior do que ruídos no pacto de credulidade firmado entre telespectador e objeto de apreciação.
Voltando a falar do elenco, se antes Sarandon ofuscava Barry Bostwick, seu par romântico, agora os postos de relevância se invertem. O Brad de Ryan McCartan é muito mais atraente que a Janet de Victoria Justice. O destaque cômico fica por conta de Annaleigh Ashford, apesar de não se distanciar muito de sua Betty de Masters of Sex.
Mesmo que não tenha o mesmo poder de entretenimento que o antecessor, The Rocky Horror Picture Show: Let’s Do the Time Warp Again ganha alguns pontos pelo fator nostalgia e o caráter disruptivo.
Don’t Dream It. Be It.
Nota (0-10): 6