Antes de escrever, estava curtindo algumas fotos no Instagram. De tempos em tempos, fiz pausas para conferir as novidades no Facebook. Após concluir, veio a preocupação: será que alguém vai curtir?
Há poucos anos era apenas uma fantasia futurística. Hoje a revolução tecnológica está atrelada ao nosso cotidiano de forma cada vez mais intensa, o que torna todos os questionamentos levantados na terceira temporada de Black Mirror, produção criada por Charlie Brooker, ainda mais preocupantes.
Segundo Morin, as interações cognitivas que tecem as relações sociais estão mudando. “O que chamamos de informática é, na realidade, a primeira etapa, ainda bárbara e grosseira, de um sistema de computação/informação/comunicação artificial que poderá revolucionar as relações do espírito com o cérebro, da sociedade com os seus membros, do Estado com o indivíduo”.
O futuro de ontem é hoje, e Black Mirror mais uma vez trabalha com maestria ao potencializar os atuais avanços e despejar sobre eles toda a perversidade de nossas almas. Do primeiro ao último episódio, foram construídas realidades que falam sobre quem nós somos.
Em Nosedive, Bryce Dallas Howard encarnou perfeitamente parcela da sociedade que busca incessantemente prestígio. Alimentamos uma vida artificial que pode crescer a ponto de nos sufocar.
Já Playtest, segundo capítulo, muda completamente de cenário – marca da atração, que trabalha a sua crítica social transitando por diversos gêneros. Nesta história, é como se tivéssemos misturado Matrix e Resident Evil e dado à luz uma criatura abominável. A tecnologia vira algo assombroso, assim como no capítulo seguinte, Shut Up and Dance, no qual várias pessoas têm suas vidas destruídas após serem hackeadas. Diariamente, vemos casos de pessoas expostas sem a mínima piedade. A consequência, muitas vezes, é até mesmo o suicídio.
Nós não temos o devido senso de responsabilidade ao usarmos a internet. A sociedade encara como brincadeira algo que é gravíssimo. Isso está latente na parte final, Hated in the Nation. Quando você deseja publicamente a morte de alguém, acabou de entrar num jogo que invariavelmente terá efeitos.
O mundo virtual ainda é visto como algo distante, fictício – logo, com margens que podem ser ultrapassadas sem problemas. Todavia, ele é parte da nossa realidade. Men Against Fire, meu episódio favorito, aborda uma eugenia moderna. Distorções são criadas para sermos ainda mais cruéis, e é preferível o esquecimento à verdade.
O ponto fraco da temporada fica por conta de San Junipero. Apesar de ser interessante, saudosista, peca por ser uma história de amor com ares modernos, ou seja, não tem o mesmo impacto das demais.
Black Mirror é envolvente e chocante. Em seu terceiro ano, elevou tanto o número de episódios quanto a qualidade deles.
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Nota (0-10): 9