Crítica Behind the Candelabra: sexualidade e negação

A HBO, reconhecida pelas suas produções de qualidade, costuma nos presentear com telefilmes que abordam personagens e momentos históricos. Nos últimos anos, exibiu, por exemplo, o comovente The Normal Heart, sobre a epidemia de AIDS nos EUA; o ótimo Bessie, com Queen Latifah encarnando a legendária cantora de blues Bessie Smith; e, mais recentemente, o importante All The Way, que conta parte da trajetória do ex-presidente Lyndon B. Johnson, que assinou a Lei dos Direitos Civis.

Behind the Candelabra, obra de 2013 dirigida por Steven Soderbergh, segue a mesma linha. Baseado em Behind the Candelabra: My Life with Liberace, de Scott Thorson, o telefilme aborda a história de amor entre o autor do livro e o famoso pianista Wladziu Valentino Liberace (1919-1987).

Vindo de uma família de músicos, Liberace foi um garoto prodígio que se transformou em homem visionário, se tratando da carreira artística. Ele soube introduzir um ritmo popular, vestia-se de forma extravagante e fazia sucesso como poucos. Ao mesmo tempo, construiu sua imagem pública de maneira mentirosa. Precisava nutrir o desejo das fãs, e nunca assumiu sua homossexualidade.

Thorson, por outro lado, era um garoto que sonhava em ser veterinário. Tímido e inexperiente, caiu nas graças do músico e iniciaram um relacionamento. Sua vida tornou-se a vida de Liberace, e essa forma abusiva de relacionamento fracassou após alguns anos.

O amor de Thorson foi comprado por alguém que, desde o ventre da mãe, pegava para si o que bem quisesse sem se preocupar com o quão danoso seria para os outros. A produção é eficaz ao abordar o quão desigual é a relação deles, seus pudores, a recusa em aceitar a própria sexualidade.

Michael Douglas é, sem sombra de dúvidas, o maior acerto. Ele encarna o músico de forma inacreditável. Seus movimentos em cena ofuscam qualquer um que esteja ao seu lado. Matt Damon não chega nem aos pés, apesar de também estar bem. O grande problema é a sua escalação: Thorson, à época, era muito mais jovem do que ele. A escolha de Damon para o papel suaviza um dos vários aspectos espinhosos do romance.

Outro ponto um pouco frustrante é a direção de Soderbergh, que não sai do convencional. Seu trabalho na série The Nick, por exemplo, é muito mais impactante. Aqui, parece não ter a mesma ousadia que Liberace teve ao fugir do erudito. Aspecto que, vale ressaltar, não tira o brilho e a importância do telefilme.

A sexualidade é algo bonito, diz Liberace, em determinado momento da obra, enquanto assiste a um filme pornô. Pena não ter tido a oportunidade de viver sem amarras. Certamente seu nome ecoaria ainda mais distante.

 

Nota (0-10): 8

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