Crítica Narcos S2: o brilho de Moura

Quando Pablo Escobar aparece em cena na série Narcos, da Netflix, todas as atenções se voltam para ele. Se na trama destaca-se por ser o rei do Cartel de Medellín, o motivo da fascinação do público é a atuação magnífica de Wagner Moura. O ator encarna o personagem indo perfeitamente dos olhares de afeto ao abraçar a esposa e os filhos à frieza completa ao matar algum inimigo.

Para nossa felicidade, Escobar e sua família ganharam mais tempo de tela no segundo ano da produção, permitindo um desenvolvimento mais apropriado do drama. O cerco se fecha e a tensão é construída com um pouquinho mais de esmero que outrora.

A passagem de tempo mais curta ajuda muito para isso. Um dos maiores problemas da primeira temporada certamente foi o enorme período abordado. No correr alucinado dos anos, os personagens iam e vinham sem o devido desenvolvimento. Antes mesmo de termos a oportunidade de gravar a fisionomia, estavam mortos. Consertou-se parte das falhas, mas o estrago de certa forma já foi feito.

Com a queda de Pablo, há um problema gravíssimo. A coroa passou para as mãos de um personagem que não foi trabalhado consistentemente – e o fato de que os produtores sempre souberam que a série é sobre o narcotráfico, e não Escobar, torna isso mais incompreensível.

Pior do que isso, apenas a falta de carisma de Steve Murphy, que é interpretado por Boyd Holbrook. Estamos diante de um protagonista que não nos desperta empatia alguma. A performance um tanto apática do ator mistura-se às características nada atrativas do personagem e temos como resultado a indiferença.

Mesmo a parceria com Javier Peña, de Pedro Pascal, não ajuda muito. Se comparado com protagonistas de outras séries, o problema talvez seja até mesmo mais grave que, por exemplo, o de Piper Chapman, personagem dispensável em meio a tantas detentas incríveis que povoam a trama de Orange Is The New Black.

Se Murphy não funciona como deveria, as cenas de ação, por outro lado, são bem mais do que satisfatórias. Contando com José Padilha, de Tropa de Elite, como um dos produtores, a atração nos mostra uma perseguição frenética, optando em muitos momentos pela câmera na mão, que nos transmite sensação de imediatez.

Pablo, seus capangas e a polícia são capazes de atos desumanos e a série não se esquiva disso – o que talvez não fosse possível em uma produção de TV aberta. Neste momento, no qual há maior liberdade para contar a história, cabe a reflexão: até que ponto estamos mostrando a nossa sociedade em sua essência e a partir de onde começamos a fetichizar a violência?

 

Nota (0-10): 7

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