Crítica The Night Of: muito além da investigação

Nasir Khan, personagem de Riz Ahmed, apenas queria participar de uma festa em Manhattan. Sem pedir permissão, pegou o táxi do pai, o primeiro de vários erros que o fizeram acordar em uma cozinha na qual nunca antes havia pisado, subir as escadas e encontrar o corpo já sem vida de Andrea, garota com quem passou boa parte da noite.

O início de The Night Of, minissérie da HBO criada por Steven Zaillian e Richard Price, pode parecer com qualquer outra atração criminal. Seu diferencial, todavia, está na construção dramática da trama. Baseado na produção Criminal Justice, da BBC, o trabalho segue o caminho de outras tantas ótimas séries recentes que expõem nossa sociedade de forma crua.

Assim como em Rectify – que, infelizmente, chegará ao fim em sua quarta temporada –, deixa-se de lado a intenção de esclarecer se o protagonista é ou não culpado. A dúvida que paira no ar se mostra muito mais instigante. Afinal, estamos acompanhando a trajetória de um assassino ou de uma vítima do sistema?

Se Daniel Holden, de Rectify, que passou 18 anos sozinho no corredor da morte, mantém um semblante de serenidade, Naz passa por profundas transformações e não demora a perder seu olhar de inocência. A cadeia é um ambiente hostil. Para sobreviver ao lado de outros detentos, precisa de proteção. E nada é de graça, claro. Acaba sujeitando-se a atos que invariavelmente deixam marcas não apenas físicas.

Para tentar tirá-lo de lá, temos John Turturro encarnando muito bem um advogado que é subestimado por todos. Jack Stone tem seu fardo estampado na pele. Suas lutas diárias são perceptíveis no seu modo de agir e na pressa por resoluções.

O caso que tem em mãos é difícil, mas não impossível de vencer. Entre idas e vindas, ganha a companhia de Chandra, jovem advogada que realmente acredita na inocência do réu. Creio que confie até mesmo mais do que a própria mãe de Naz, que em certo momento não atende ao telefonema do filho em uma das cenas mais marcantes.

Safar, a mãe, e Salim, o pai, sofrem calados. São muçulmanos e a série explora muito bem todo o preconceito que há contra eles, principalmente após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Nesse ponto, a produção guarda mais semelhanças com a antologia American Crime, do vencedor do Oscar John Ridley. Ambas preocupam-se em mostrar todas as nuances por trás de um crime. A dor seletiva, a intolerância latente, as injustiças do sistema prisional.

Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, boa parte do futuro das pessoas é escrito por raça, sexo, orientação sexual, credo. A desigualdade é perceptível, e as atrações não fogem da verdade.

The Night Of pode, de certa forma, ser a herdeira de True Detective – que se perdeu lamentavelmente em sua segunda temporada. Não lhe falta atributos para isso: roteiro pacientemente costurado; direção de arte magistral, com sua palheta de cores frias; fotografia sempre buscando ângulos belíssimos; e elenco que passa toda a dramaticidade necessária. Não podemos esquecer da abertura, que me deixou apaixonado antes mesmo da trama iniciar. Encerro com ela, abaixo.

Nota (0-10): 9

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